Sinais de tristeza, desmotivação, alterações do sono, do apetite, da energia e do humor, ligadas às estações do ano mais frias ou à luminosidade do dia, são naturais. Sempre ouvimos as pessoas dizerem que em dias de frio dá vontade de ficar em casa, na cama, assistindo um filme ou TV, comendo doce, acompanhado de uma bebida quente. Mas, quando a tristeza se torna profunda e sem motivo aparente nesses dias de frio, com maior tempo de duração e maior frequência, pode ser indício de Transtorno Afetivo Sazonal (TAS), popularmente conhecido como depressão sazonal ou depressão de inverno.
Segundo o médico Drauzio Varella, a tristeza dura pouco tempo, enquanto a depressão tende a afetar a pessoa por mais de 15 dias e prejudica o funcionamento psicológico, social e capacidade de trabalho. Além disso, a depressão provoca sintomas como:
- Alteração nos hábitos de sono: dormir muito, mas mesmo assim acordar cansado;
- Alteração nos hábitos alimentares: aumentando a vontade de comer carboidratos, chocolate, entre outros;
- Energia e motivação diminuídas;
- Dificuldade de concentração;
- Dificuldade de realizar tarefas rotineiras;
- Fadiga;
- Desânimo;
- Isolamento social;
- Falta de interesse;
- Desejo sexual reduzido;
- Mudanças no humor: irritabilidade, apatia, baixa autoestima, sensação de depressão.
A depressão de inverno é mais comum do que imaginamos. Dados apontam que 10% da população desenvolve a depressão de inverno, mais comum nos países europeus e da América do Norte. Eu mesma, apesar de não ter vivenciado uma depressão sazonal, observei que meu humor modificou um pouco depois que fui morar em Londres, por ser uma cidade cinzenta a maior parte do ano. Além disso, percebia nas ruas e no metrô uma certa apatia nas pessoas, rostos cansados, o que não acontecia no verão. Nos dias mais quentes em Londres, as pessoas mudavam da água para o vinho: ficavam mais falantes, sorridentes, mais alegres. Foi lá que pude constatar que, realmente, é fato que o céu cinza e a falta de luminosidade podem afetar o humor das pessoas, por mais bem humorada que ela seja.
Segundo o American Family Physician (AAFP), as causas mais prováveis da depressão de inverno, são:
Fatores biológicos:
- Sensibilidade da retina à luz;
- Disfunção nos neurotransmissores;
- Variações genéticas que afetam os ritmos circadianos, o relógio interno do corpo – seu corpo utiliza a luz solar para realizar várias funções importantes, como quando você acorda. Assim, níveis inferiores de luz durante o inverno podem interferir no relógio interno do corpo e gerar sintomas de depressão sazonal;
- Níveis de serotonina baixos, diante da falta de exposição à luz brilhante, que geram sentimentos de depressão. Serotonina é um hormônio que afeta o seu humor, apetite e sono;
- Produção da melatonina a níveis aumentados no escuro, o que pode causar sintomas de depressão. Portanto, quando os dias são mais curtos e escuros a produção desse hormônio aumenta.
Fatores psicológicos:
- Vulnerabilidade ao estresse;
- Outros fatores de risco incluem viver em latitudes setentrionais e ter um parente de primeiro grau que manifestou sintomas depressivos.
Lembrando que, a depressão sazonal pode ocorrer não somente no inverno, como também com pessoas que passam os dias em ambientes com baixa ou nenhuma luminosidade, além de pessoas que por motivo de doenças e limitações físicas, por exemplo, precisam ficar dentro de casa por longo período de tempo.
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Tratamentos indicados pelo National Health Service (NHS)/Sistema Nacional de Saúde do Reino Unido para o tratamento da depressão de inverno ou TAS:
- Mudar o estilo de vida: estar em contato o máximo possível com a luz natural, exercitar-se regularmente e aprender a lidar com o estresse;
- Fototerapia: na fototerapia, o paciente é exposto à luz brilhante por cerca de 15 a 30 minutos, provocando a inibição de melatonina e a liberação de serotonina;
- Procurar um psicólogo: na terapia, o paciente vai aprender a lidar melhor com as distorções de pensamento que contribuem para a visão negativista acerca da vida, que caracteriza esta perturbação de humor;
- Procurar um psiquiatra: avaliar e tratar a depressão com a prescrição de medicamentos antidepressivos.
Acrescentando que, para o tratamento da depressão:
“… é preciso desenvolver a capacidade de enfrentar e resolver problemas, dificuldades e conflitos. Tanto isso é possível que apenas 18% da população apresenta quadros depressivos ao longo da vida. Problemas todos temos. É necessário, dentro das possibilidades, aprender a lidar com eles e a não deixar que nos abalem demais.” Drauzio Varella
É importante ressaltar que quando o quadro depressivo se instala, se não for tratado convenientemente, costuma levar vários meses para desaparecer. Portanto, o tratamento deve ser levado a sério, seguindo as recomendações tanto do médico quanto da psicóloga. Evitar também o abandono do tratamento, seja porque não está percebendo uma melhora aparente em pouco tempo, ou porque está se sentindo melhor. Em ambos os casos, é importante apenas interromper o tratamento quando os profissionais autorizarem, a fim de evitar futuras recaídas.
Como podemos observar, a depressão de inverno existe, sim. E não é frescura, como muita gente pensa! Estar consciente disso nos ajuda a prevenir e buscar estratégias mais adequadas para lidar com esse período do ano. Além do mais, entender que é algo que precisa ser cuidado e causado por fatores do clima e baixa luminosidade, o que não significa que a sua vida como um todo está ruim; é apenas um momento ruim causado por sintomas negativos, que tem um tratamento e pode ser prevenido.
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Caminhadas ao ar livre e suplementar vit. D e b12 ajudam a melhorar o humor durante o período de outono /inverno.