Estou pronto para morar no exterior?
Mudar para o exterior não é uma decisão fácil. Sabemos que, por um lado, a oportunidade de vivenciar coisas novas, conhecer lugares e pessoas novas, expandir a nossa consciência sobre o mundo e a vida nos traz satisfação pessoal e profissional. Por outro lado, esta escolha envolve se distanciar de amigos, familiares, da cultura de origem e de sair da zona de conforto. Portanto, tomar uma decisão como esta e se aventurar em estradas incertas e atraentes gera sentimentos opostos dentro de nós como insegurança, medos e, ao mesmo tempo, uma empolgação deliciosa.
Neste processo de tomada de decisão é importante refletir sobre a sua escolha e pensar nas consequências como a saudade, conflitos culturais e de identidade, dificuldades de adaptação e outras questões que podem surgir quando estamos distante de nossa terra de origem. Eu mesma, antes de sair do Brasil, em 2010, passei por um processo longo de conflitos e reflexões até chegar um momento em que me senti realmente preparada para encarar uma vida no exterior e novas faces de mim mesma, sejam boas ou ruins. Acredito que isto contribuiu para que eu me tornasse mais persistente e corajosa. Desde lá, já morei em países como Reino Unido, Vietnã, Malásia, Tailândia e, neste momento moro na Espanha. Posso dizer que vale a pena, mas precisamos estar bem conscientes de nós mesmos e ter objetivos claros.
Além disso, é importante refletir sobre as suas reais motivações para sair de sua terra natal. Muitas pessoas apresentam motivações para sair do Brasil como, por exemplo, querer se distanciar da violência, problemas familiares, crises financeiras, situações difíceis ou até mesmo por achar que tudo de fora é melhor. Estas motivações, muitas vezes, vêm acompanhadas de uma falsa ideia de que mudar de país é a melhor solução para todos os problemas. Mais ainda, neste caso pode existir também uma idealização da cultura e da vida em outros países.
Esta idealização da cultura, combinada com a falsa ideia de que fugir é a solução, podem se tornar grandes inimigos na sua vida futura fora do país. Pode causar estresse, ansiedade, arrependimento e, em casos extremos, até mesmo uma depressão. Portanto, a motivação de sair de seu país de origem precisa ter bases sólidas e realistas. Por exemplo, sair do país para aprender uma língua estrangeira e conhecer uma nova cultura, para conseguir um emprego no exterior, acompanhar o marido ou esposa em sua mudança de trabalho, para fazer um curso, para conhecer a realidade de sua profissão em outro país, entre outros. Ao realizar uma análise e reflexão sobre todas estas questões e fazer uma escolha consciente estará mais preparada para encarar uma vida no exterior. Mesmo com todas as dificuldades, dirá para si mesma: “ Foi uma decisão minha e estou certa disto”.
Neste processo, também é preciso ter conhecimento sobre as fases de adaptação e estar disposto a aceitar novos costumes e novas formas de pensar, viver, comer sem preconceitos e se despir de velhos hábitos. Quando chegamos em outro país achamos tudo lindo e vemos tudo na empolgação. Depois, sentimentos de saudade e de rejeição a alguns aspectos da cultura, com os quais não nos identificamos, vão surgindo. Simplesmente, lembre-se de acolher estes sentimentos e desapegar. Com o tempo, vamos nos adaptando e aprendendo a enxergar a vida no exterior de forma mais realista. Eu diria que um ano é quando as coisas começam a se ajustarem mais. Portanto, estar consciente disto antes também pode ajudar muito quando for morar fora.
Procurando por psicólogas brasileiras pelo mundo?
No meu caso, o frio foi um grande obstáculo pois a minha vida toda foi praia, piscina, fazenda e sol. Portanto, passar de uma vida toda na beira do mar para uma vida em um lugar de céu cinza quase o ano todo, como Londres, foi realmente uma tarefa difícil. Busquei compensar estas dificuldades focando nos meus objetivos como estudos e trabalho. No meu caso em particular, eu enxergava Londres como meus novos pais, que me ensinaram o significado da palavra “sobreviver” e a encarar as dificuldades e as crises como uma grande oportunidade de se reinventar. E realmente foi assim, hoje me sinto muito mais forte do que já era e preparada para viver em qualquer lugar do mundo, como tem acontecido. Cada um lida de uma forma. O que precisa existir é um autoconhecimento e saber detectar qual é a melhor maneira de aproveitar a sua vida no exterior.
A melhor maneira de saber se estamos prontos e se a nossa decisão é a mais adequada tem a ver com a maneira que decidimos. Se fizermos uma análise e reflexão sobre as consequências desta mudança; planejarmos com antecedência, conversarmos com brasileiros que já moram fora, saber sobre o mercado de trabalho na sua área, moradia, cursos, reconhecimento de diploma universidades, vistos, entre outros; e sentirmos, intuitivamente, que estamos no caminho certo mesmo que ainda com sentimentos conflitantes, a probabilidade que se esteja pronto e preparado para tomar uma decisão final correta é maior.
4 Comments
Excelente relato de experiência com base técnica e sensibilidade para ajudar a todos aqueles que buscam se reinventar em novos horizontes. Parabéns por sua coragem e trajetória Marina Lemos
Obrigada Geisa Melo! 🙂
Amei o relato! Moro na Índia há 3 anos, e 2 anos atrás entrei em depressão, precisei MUITOOO de uma psicóloga e não achei alguem aqui que pudesse entender pelo que eu passava. Muito bom saber que vocês fazem esse trabalho online! Morar fora realmente não são apenas flores, ficar mais de 1, 2 anos, requer muita resiliência. Parabéns pelo artigo!
Obrigada Leticia! 🙂 Boa sorte em seu caminho!